segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Só;

São seis copos, cinco talheres, seis pratos, duas xícaras, duas toalhas e dois travesseiros, tudo feito para o plural, mas ela vive o singular.
O singular de uma vida que ela deixou de acreditar que possa ser vivida com sujeitos perfeitos.

Todos os dias, ao acordar, a mesma cena: ela se olha no espelho e engole à seco o gosto amargo que a vida lhe da antes do café da manhã. 
Ainda sonolenta e enrolada no edredom, ela acende um cigarro e cria coragem pra ligar o chuveiro. Tirando a roupa e na frente do espelho novamente, ela consegue enxergar a lei do tempo se refletindo no corpo. Olhando a água cair, ela tem esperança de que junto, pro ralo, possam ir todas as suas inseguranças e amarguras.

Ela já não chora mais, raramente quando está com TPM. Evita o convívio social, pede as compras por telefone e todo o amor que ela deveria demonstrar para alguém, solta pela boca depois de uma tragada.

Ela gosta desse convívio egoísta, escolheu assim, e se sente confortável assim, embora existissem outras alternativas, ela optou sem pestanejar por estar só; as companhias já doeram demais.

Sim, ela tem alguns casos, mas são rápidos e indolores.
Se cansou de ter que começar, manter e terminar...

Ela só começa, não mantém e não termina.

Isso a deixa aliviada, evita a fadiga de ter que explicar o "porquê" de tudo.
Ela simplesmente passou a viver pra observar, provar, e testar, saber o que se sente, e poder passar isso pro papel; porque somente com o papel e caneta na mão, ela se sente plural, e nunca singular...

Lá, no papel, ela começa, mantêm, e mantêm...
Nunca termina.

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